sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Atitude e Militância - artigo escrito à Afropress

Atitude e Militância
Por: José Evaristo S. Netto - 19/8/2007

Ter atitude “correta” é importantíssimo na militância negra. Na atual conjuntura marcada pelo protagonismo da juventude negra, e pela mobilização dos movimentos sociais pelos direitos humanos, o posicionamento político-ideológico deve estar em sintonia com a atitude, e estarem ambos “corretos”.

Mas o que é ser correto em uma sociedade em crise, onde as universidades se rendem ao mercado? O que é ser correto em uma sociedade onde as escolas de ensino pré-universitário transmitem um saber técnico, automatizado e racista, não tendo competência para lidar com o saber popular? Como conscientizar as pessoas? Ou melhor, que consciência negra queremos e/ou precisamos promover?
Estou iniciando carreira acadêmica investindo no tema Motivação à Prática Esportiva. Muitos profissionais da Educação Física dedicam–se a este tema, principalmente porque é a motivação que determina, senão a plenitude da ação, a intensidade, duração, e a qualidade desta. Neste momento devem estar se perguntando, o que isso tem a ver com a atitude na militância negra? A motivação é a resposta.
De acordo com novas tendências da Psicologia do Esporte, a motivação é categorizada dentro de um continuum de autodeterminação, ou seja, de uma motivação menos autodeterminada (motivações extrinsecamente reguladas), para uma motivação mais autodeterminada (motivação intrinsecamente regulada). As motivações extrinsecamente reguladas são voltadas para ações em resposta a algo externo à atividade, como para a obtenção de recompensas materiais ou sociais, reconhecimento, pressões de outros, ou para demonstrar competência. Já a motivação intrinsecamente regulada é determinada pela satisfação das necessidades psicológicas básicas de autonomia, competência, e de estar vinculado a outras pessoas.
Pesquisadores da área da Psicologia Escolar afirmam que um aluno extrinsecamente motivado busca notas altas, elogios, prêmios, ou não ser punido, e neste sentido, sendo retirada a conseqüência, a motivação para estudar desaparece. Por que vou estudar se, quando passar de ano, não terei aumento de mesada? Pra que estudar, se vou continuar sofrendo o racismo por ser preto, independente de eu terminar o ensino médio, a graduação, o mestrado, ou o doutorado? Pegaram?
Já o aluno motivado intrinsecamente (ou cada vez mais autodeterminado, dentro do continuum) não sofreria de tais conflitos, porque o estudo representaria um prazer pessoal, a possibilidade de crescimento individual, qualitativo. Tenho duvidas com relação à nossa motivação, enquanto militantes negros e negras. Em que “nível” do continuum de autodeterminação a regulação da nossa motivação se encontra, quando militamos? Menos autodeterminado (motivação extrínseca) ou mais autodeterminado (motivação intrínseca)?
Embora ainda inconsistente, a área já contribui, a meu ver, para entendermos o que antes parecia incompreensível: o porquê de tal postura. Na busca de “métodos adequados” de militância, a consciência negra que necessitamos cada vez mais me parece relacionar com a regulação autodeterminada das nossas posturas no movimento negro.