segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Qualidade de vida na sociedade desigual: primeiras considerações


José Evaristo Silvério Netto

Viver bem em tese é o objetivo de todas as pessoas. Viver com boa saúde, sem doenças, ser feliz, trabalhar com o que lhe dá prazer, se relacionar com pessoas que te amam, ter dinheiro e conforto, ser respeitado e admirado, dentre outros desejos, constituem o pool de motivos que direcionam nossas ações cotidianas. Desde pequeno, quando cursava o ensino fundamental, quando treinava atletismo, quando saia para baladas, ou quando paquerava alguma garota, eu estava consciente ou "subconscientemente" sendo norteado pelos desejos supracitados. O que mudou de lá para cá foi minha visão de mundo. Hoje com 27 anos, mais maduro e consciente do mundo ao meu redor, continuo tendo os mesmo desejos e motivos de viver com boa saúde, sem doenças, ser feliz, e assim por diante, mas minhas atitudes são diferentes devido a experiência de vida acumulada. O que acho interessante é que o motor primário das minhas ações (motivações) não se alterou desde a época de infância.

Entendendo as ações ou atitudes humanas por este âmbito, podemos concluir que é fácil, ou simples, agir em conformidade com o objetivo universal de viver bem. Mas incorremos em grave erro porque desta forma estamos considerando o indivíduo como um ser padronizado, sem diferenças. Desta forma também estamos desconsiderando as desigualdades sociais, problemas como machismo, racismo, e muitas outras desumanidades, que prejudicam a construção da personalidade individual e minam as ações dos seres humanos. Ser um homem preto na nossa sociedade significa ser uma pessoa muito mais susceptível a sofrer violência física quando comparado a um homem não-preto; significa ser muito mais susceptível a ser desconsiderado intelectualmente por outras pessoas; significa ser colocado na condição de objeto sexual; significa ser uma pessoa que a todo o momento precisa provar que é capaz, que é inteligente, que é bonito, provar para os outros e para si próprio!

Tentando concluir esta confusa reflexão, retorno ao primeiro parágrafo e penso sobre o conceito Viver Bem. Viver bem é tudo aquilo que escrevi na segunda oração do primeiro parágrafo, e muito mais. Acredito que homens e mulheres, pretos e não-pretos, de religiões diverPESTAN~1sas, de culturas diversas, se questionados sobre "o que é Viver Bem" responderiam algo parecido ao que escrevi. Mas, se questionados sobre "como Viver Bem", ou "o que fazer para Viver Bem", ou mesmo sobre "se tem chances de Viver Bem" as respostas seriam diferentes. Faço a seguinte pergunta: é possível a uma pessoa preta ter boa saúde em uma sociedade racista? O conceito de saúde segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) é a de que Saúde é um construto biopsicosocial, portanto amplo, e que se configura em um continuum onde em uma ponta está saúde positiva e na outra está a saúde negativa e a morte. Sofrer racismo prejudica a saúde positiva dentro das três dimensões do construto de saúde (dimensões biológica, psicológica, e social - biopsicosocial). O prejuízo dentro da dimensão biológica se dá desde agressões físicas como por exemplo os casos de violência policial, até patologias psicossomáticas como são as "falhas" do sistema imunológico aumentando o estabelecimento de diversas doenças, e a hipertensão arterial. Em se tratando da dimensão psicológica e social, o aumento exacerbado do estresse, depressão, baixa auto-estima, e baixa auto-eficácia, são exemplos de prejuízos específicos. O livro de Maurício Pestana entitulado Manual de Sobrevivência do Negro no Brasil (figura acima) é um importante aliado para a tomada de consciência sobre a dificuldade em viabilizar a promoção de qualidade de vida da população negra em uma sociedade racista.

Viver bem se relaciona com um termo muito usual e estudado na área da saúde, Qualidade de Vida. Agora sim concluindo, parece-me extremamente difícil ter qualidade de vida sendo vítima do racismo, do machismo, e de todas as desumanidades inerentes a nossa sociedade. É necessário pensar em políticas públicas para a promoção da qualidade de vida de populações historicamente vitimadas. É necessário que os gestores públicos absorvam estas idéias em seus programas de governo, pois só assim aumentar-se-á a qualidade de vida geral da sociedade brasileira e mundial, dentro de políticas regionais e globalizadas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Estou atualmente residindo em Portugaql e cursando o mestrado em Ciencias da Educação.
à princípio o objetivo do meu pré-projeto de dissertação é fazer uma interação entre a auto-eficácia de bandura e as relações étnicos raciais no ambiente escolar. Se meu projeto de pesquisa for aorovado , breve estarei no Brasil , tenho contato com Prof.Elena Andrei e poderíamos trocar algumas idéias sobre as dificuldades de se clocar a Lei 10.639/03 no Brasil.
Abcos
Adriano Batista